segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Com reação incrível, Alan desbanca Pistorius e arranca o ouro nos 200m


No meio do caminho, o ouro parecia impossível. Oscar Pistorius corria lá na frente, sem sentir nos ombros o peso do favoritismo nos 200m rasos T44. Várias passadas atrás dele, um brasileiro de 20 anos ainda não tinha desistido da ideia de ser o estraga-prazeres no Estádio Olímpico de Londres. Alan Fonteles acelerou. Se agigantou. E desbancou o rival famoso diante de um público atônito. Com uma arrancada espetacular na reta final, o velocista paraense despejou sua fúria nas próteses de fibra de carbono, criticadas por Pistorius na véspera. E arrancou uma medalha de ouro histórica para o Brasil nas Paralimpíadas.
 
Alan cruzou a linha de chegada com o tempo de 21s45, à frente dos 21s52 do sul-africano. O bronze ficou com o americano Blake Leeper, que fez 22s46. Com o ouro garantido, Alan nem chegou a abrir o sorriso. Com a fisionomia séria, foi cumprimentando os rivais, um a um. E o abraço tímido de Pistorius mostrou que o adversário não estava nem um pouco satisfeito com o resultado.
 
Pistorius terá mais três oportunidades de tentar uma revanche contra Alan. Os dois também dividirão as raias do Estádio Olímpico de Londres nos 100m e 400m T44 e no revezamento 4x100m T42/T46.
 
O clima de rivalidade nos 200m foi acirrado por Pistorius após as eliminatórias do sábado, quando o corredor sul-africano criticou as próteses que o brasileiro estava usando para competir em Londres. O “Blade Runner” chegou a sugerir que Alan poderia ser beneficiado com as novas próteses. O treinador da equipe brasileira de atletismo, Ciro Winckler, confirmou que o paraense está mais alto, com 1.81m, contra 1.76m no Mundial da Nova Zelândia, no ano passado. Na ocasião, Alan ficou com o bronze nos 100m T44 e Pistorius foi prata. Mas, apesar das críticas de Pistorius, a mudança é permitida pelas regras do Comitê Paralímpico Internacional.
 
De sorriso aberto, Alan Fonteles encarou um batalhão de jornalistas para comentar o feito que surpreendeu e calou todo o Estádio Olímpico. Enrolado a bandeira do Brasil, o jovem de 20 anos agradeceu o apoio do compatriotas recebido pela internet e mostrou ter consciência da grandeza de seu feito.
- Estou muito feliz. Com certeza não vou dormir tão cedo. Recebi muitas mensagens de apoio, de força. Quero agradecer a todos. Quero também dizer para minha família que eu vim aqui, fiz o meu melhor, e entrei para história do movimento paralímpico.
 
O campeão deixou clara a decepção com as declarações de Oscar Pistorius, na véspera da decisão, que colocou em dúvida seu desempenho na semifinal.
- Não tenho o que falar. Estou dentro das regras. Isso que eu tenho que dizer. Não preciso falar para ninguém se devo estar pequeno ou grande. A pessoa que se incomodou com isso... Eu não posso fazer nada.
Fã de Oscar Pistorius, a quem sempre apontou como inspiração, o paraense disse ainda que tudo que foi dito o motivou ainda mais para prova deste domingo, apesar de também tê-lo entristecido.
- Me motivou. Ele queria jogar a responsabilidade para cima de mim de qualquer forma. Já tinha sido assim na coletiva (terça-feira passada). Para falar a verdade, fiquei um pouco triste com tudo que ele disse depois da semifinal. Mas isso para mim não importa. Vim para correr e fazer o meu melhor. Não vou ligar para o que atleta diz ou deixa de dizer. Entrei na pista para fazer essa história.

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